quinta-feira, 21 de maio de 2020

Carta para alguém que te fez sofrer


Gostava de algum dia compreender onde é foi que nos perdemos. Parecíamos ter algo tão bonito. Mas, de um momento para o outro, tudo se foi. Talvez porque nunca estivemos no mesmo patamar. Ou então porque já existiam demasiadas falhas que eu decidi ignorar. A nossa história deu tantas voltas que ainda hoje tenho dificuldade em perceber o encadeamento de certas situações. Mas não escrevo por isso. Isto não se trata de tudo o que poderíamos ter sido e não fomos. Trata-se da forma como tu me trataste depois do nosso relacionamento não ter correspondido às tuas expectativas. Nenhum de nós está inocente no meio deste enredo, é certo. Eu também errei. Também te magoei. Mas sempre fui honesta e transparente contigo em relação a tudo, desde o primeiro momento. Partilhei contigo os meus medos e as minhas apreensões. Mostrei-te tudo aquilo que sou. Não o que aparento ser, mas o que sou verdadeiramente, quando ninguém está por perto. Mas tu não quiseste saber disso. Preferias que eu tivesse optado viver uma mentira, desde que tu me tivesses e te sentisses bem. Até hoje não consigo compreender como é que me deixei afetar tão negativamente por ti. Eu que sempre disse que nunca iria deixar ninguém me fazer sentir inferior. 

Talvez tenha sido a pressão do início dos vinte anos. Aquela ânsia de ter alguém por perto com quem possamos partilhar a nossa jornada. Talvez me tenha deixado iludir por isso. Afinal, eu gostava das sensações que me provocavas. As borboletas no estômago. O nervosismo miudinho. A forma como os nossos dedos se tocavam na manete das mudanças do teu carro. A maneira como me mimavas a cabeça quando eu estava prestes a adormecer. O jeito com que me apertavas contra ti quando eu tinha que voltar para casa. Mas de que valia tudo isso quando me fazias sentir mal comigo mesma na maior parte das vezes? De que serviu pensar que nunca ninguém havia gostado de mim como tu, quando tu não respeitaste nenhuma das minhas decisões? Tu sufocavas-me. E eu sentia-me mal por admiti-lo. Pensei que era insensível. Que não havia nada de errado contigo. Que eu é que sempre fui demasiado independente e não estava habituada. Mas não. Tornaste-te obcecado e doentio com as tuas atitudes. Nunca conseguiste enxergá-lo, porém. Nem com outras pessoas a dizer-to. E embora me tivesses feito sentir muito mal durante todos esses meses, feriste-me a alma quando decidiste denegrir a minha imagem. Contaste a tua versão da história a todas as pessoas que nos conhecem. Distorceste os factos para te destacares enquanto vítima. Fizeste-os acreditar que sou alguém desonesto e insensível. Que premeditei as minhas atitudes desde o início só para te magoar. E embora palavras sejam levadas pelo vento, o teu discurso afetou-me muito. Não é justo que tenhas feito isto comigo. Não depois de tudo o que eu fiz por ti. Do que eu aguentei por pensar que tu merecias ser feliz. Quem é que faz uma coisa destas? Fizeste a minha vida num inferno durante meses. Mas, ainda assim, a culpada sou eu. Fui eu que acabei com tudo por livre e espontânea vontade. Não é isso que dizes por aí? Que eu nunca tive empatia por ti? Que não te queria porque existiam outras pessoas na minha vida? É irónico que nunca existiu mais ninguém para além de ti. Eu só queria que, nalgum momento, conseguisses ter a sensibilidade para compreender que tens uma enorme dificuldade em gerir as tuas emoções e frustrações. E que foi isso que nos trouxe até aqui!

Não te guardo rancor, apesar de tudo. Afinal, ajudaste-me a perceber que o amor-próprio é tudo. Que eu tenho o poder para decidir quando é que eu já não quero e que tenho a liberdade para expulsar  pessoas tóxicas da minha vida. Se hoje sou uma pessoa melhor, é por tua causa. Decidi finalmente focar-me em mim. Porque antes de qualquer pessoa, venho eu. E eu devo realmente muito a mim mesma!

Depois de te acompanhar, finalmente, à saída da minha vida, desejo-te tudo de bom. Só não te desejo o melhor porque isso tu já perdeste.

5 comentários:

  1. Às vezes sabe bem escrever assim, para libertar o que vai dentro. Uma carta que todos se identificam em algum momento das suas vidas.

    Convido-te a visitar o meu blog e a seguires se gostares claro https://primeirolimao.blogspot.com/

    Beijinhos,
    Vanessa Casais

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  2. Que post tão bonito! Acho que todos nos conseguimos identificar um bocadinho. São coisas que custam, mas fazem parte... Espero que as coisas se resolvam pelo melhor, a vida dá tantas voltas!
    r: Obrigada querida. Felizmente também já estou a recuperar. Espero que estejas bem, qualquer coisa que precises sabes onde me encontrar, nem que seja só para conversar um bocadinho... As coisas vão melhorar! Força, estamos juntas :) Beijinhos

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  3. Uauuu!! Contudo é isso, amor próprio acima de tudo e liberdade dentro da relação. Respeito sempre.

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  4. Eu também já escrevi uma carta para alguém que me fez sofrer. Sabe bem dizer assim tudo que pensamos, mesmo que ela não seja entregue, é o fechar de um ciclo.

    R: As melhoras para ti minha querida, logo logo mandamos o bicho embora. Um beijinho grande <3

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  5. Como estás querida? Espero que melhor! Beijinhos

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